Conversamos na esquina da Trajano com Felipe Schmidt, ao abrigo de um guarda-chuva emprestado pelo lendário senador Alcides Ferreira. Caía a tarde e uma chuvinha fazia rebrilhar miríades de gotas d’água sobre a ilustre carapinha do poeta. Dobrei-me, reverente, diante do príncipe do Simbolismo e saudei o poeta com uma de suas aliterações mais brilhantes que os pingos da chuva:
— Vozes veladas, veludadas vozes te saúdam, ó sinfônico poeta!
Cruz e Sousa estava aureolado pela luz iridescente dos seres evoluídos, já não sentia a dor da tuberculose e do preconceito, o sofrimento da vida aos poucos lhe foi recompensado pelo repouso da morte e pela elevação do espírito.
O poeta já não sentia a hostilidade da usura daqueles que não lhe perdoavam as dívidas, mesmo as “magras”, como ele próprio.
Telefonou (simbolicamente, como convém a um Simbolista) aos seus colegas do Primeiro Mundo, o alemão Stefan George, o francês maldito Baudelaire, o excêntrico parisiense Mallarmé. Contou-lhes do sofrimento da crise brasileira, que sucede a americana e a europeia. Mas é aqui que a pobreza sofre mais.
Ao Baudelaire de “As Flores do Mal”, perguntou:
— A quem essa crise está afetando aí na França?
O velho e renegado Charles não negou fogo. Dardejou, com desprezo, instituições e autoridades:
— Aqui, eles só estão dando dinheiro pra banqueiro!
Cruz persignou-se, dirigiu-se aos outros dois colegas do Simbolismo:
— E aí na Alemanha?
Stefan George confirmou:
— Aqui na capital do Euro já liberaram 2,5 trilhões pra calafetar os bancos!
Mallarmé disse que em suas “Divagações” já alertara sobre a degradação da espécie humana: “Estamos perdidos”. E Baudelaire ainda ligou para Edgar Allan Poe, a fim de saber o que diziam os “seus corvos”. O prosador de “Os assassinatos da Rua Morgue” tomou um absinto antes de responder:
— Aqui, Obama e seus espiões já puseram nos bancos US$ 5 trilhões e a conta não para de subir!
O Simbolista voltou ao nosso mundo, à esquina da Trajano com Felipe, e deixou escapar uma lágrima que lhe desceu a face, até desaparecer sob o colarinho duplo.
---
— Vês, meu amigo? Os pobres continuam contando apenas com a mãe-natureza, não é mesmo? Um décimo desse dinheiro todo daria pra erradicar toda a pobreza da face da Terra!
A chuva parou. Lágrimas, só nos olhos do poeta...
— Vozes veladas, veludadas vozes te saúdam, ó sinfônico poeta!
Cruz e Sousa estava aureolado pela luz iridescente dos seres evoluídos, já não sentia a dor da tuberculose e do preconceito, o sofrimento da vida aos poucos lhe foi recompensado pelo repouso da morte e pela elevação do espírito.
O poeta já não sentia a hostilidade da usura daqueles que não lhe perdoavam as dívidas, mesmo as “magras”, como ele próprio.
Telefonou (simbolicamente, como convém a um Simbolista) aos seus colegas do Primeiro Mundo, o alemão Stefan George, o francês maldito Baudelaire, o excêntrico parisiense Mallarmé. Contou-lhes do sofrimento da crise brasileira, que sucede a americana e a europeia. Mas é aqui que a pobreza sofre mais.
Ao Baudelaire de “As Flores do Mal”, perguntou:
— A quem essa crise está afetando aí na França?
O velho e renegado Charles não negou fogo. Dardejou, com desprezo, instituições e autoridades:
— Aqui, eles só estão dando dinheiro pra banqueiro!
Cruz persignou-se, dirigiu-se aos outros dois colegas do Simbolismo:
— E aí na Alemanha?
Stefan George confirmou:
— Aqui na capital do Euro já liberaram 2,5 trilhões pra calafetar os bancos!
Mallarmé disse que em suas “Divagações” já alertara sobre a degradação da espécie humana: “Estamos perdidos”. E Baudelaire ainda ligou para Edgar Allan Poe, a fim de saber o que diziam os “seus corvos”. O prosador de “Os assassinatos da Rua Morgue” tomou um absinto antes de responder:
— Aqui, Obama e seus espiões já puseram nos bancos US$ 5 trilhões e a conta não para de subir!
O Simbolista voltou ao nosso mundo, à esquina da Trajano com Felipe, e deixou escapar uma lágrima que lhe desceu a face, até desaparecer sob o colarinho duplo.
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— Vês, meu amigo? Os pobres continuam contando apenas com a mãe-natureza, não é mesmo? Um décimo desse dinheiro todo daria pra erradicar toda a pobreza da face da Terra!
A chuva parou. Lágrimas, só nos olhos do poeta...
DIÁRIO CATARINENSE
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