Pablo Gomes

Ezequiel Oliveira da Silva, 29, colhe pinhão na fazenda onde vive no interior de Painel
Foto: Vani Boza / Agencia RBS
Estão liberadas desde esta sexta-feira a colheita, a comercialização e o consumo de um dos alimentos preferidos dos catarinenses no inverno. O pinhão das araucárias ainda não engloba uma categoria profissional organizada, mas garante o sustento de muitas famílias na Serra. E é por isso que a atenção a esta cultura e aos seus produtores é cada vez maior.
Até o ano passado, tocar no pinhão só era permitido a partir do dia 15 de abril, conforme norma do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). A regra havia sido estabelecida em 1976 com o objetivo de preservar a espécie e garantir parte da produção para os animais silvestres. Mas devido à mobilização dos produtores catarinenses, já que em muitos lugares o pinhão amadurece até um mês antes, o prazo foi antecipado para 1º de abril por uma lei estadual.
Ao contrário das culturas tradicionais, na do pinhão não existem números oficiais sobre a produção. Estima-se que 12 mil famílias colhem pinhão na Serra Catarinense. Destas, cerca de 30% têm a atividade como principal fonte de renda. A produção estadual gira em torno de 10 mil toneladas por ano, sendo quase a metade só nos vizinhos municípios de Painel e Urupema, onde há araucárias em praticamente 100% do território.
A expectativa é de que na atual safra os números sejam parecidos, bem como os preços pagos aos produtores, que no ano passado oscilaram entre R$ 1 e R$ 2 o quilo. Já para o consumidor, os valores variam entre os pontos de venda, podendo chegar a R$ 5 o quilo.
Antonio Lemos da Silva, de 63 anos, e o filho Ezequiel Oliveira da Silva, 29, colhem pinhão na fazenda onde vivem, no interior do município de Painel. Na safra passada eles venderam três toneladas e ganharam aproximadamente R$ 3 mil. Agora, esperam repetir o lucro.
— O pinhão não tem custo nenhum para nós. É só subir na araucária, tirar e vender — diz Antônio da Silva.
Profissionalização
Só que mesmo com todos estes benefícios, a cultura do pinhão poderia ser bem mais favorável ao produtor. Como não existem informações oficiais e nem se sabe ao certo o comportamento das araucárias entre uma safra e outra, agrônomos do Projeto Kayuvá, numa parceria entre o Centro de Ciências Agroveterinárias da Udesc (CAV), em Lages, e o Instituto Pereté, monitoram desde o ano passado 120 exemplares para obter dados como solo, tamanho, quantidade e peso das pinhas, o que pode explicar a alternância de produção das árvores.
Com isso, pretende-se profissionalizar a atividade, certificando e agregando valor ao pinhão. O manejo correto também entra na pauta, com cursos sobre como subir nas araucárias com segurança utilizando equipamentos de rapel. Tem também um projeto encaminhado à Assembleia Legislativa que pretende isentar o pinhão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em Santa Catarina.
Assim, será possível criar uma cooperativa, por exemplo, com capacidade de armazenar pinhão em câmaras frias — sem depender dos chamados atravessadores —e abrir as portas para a exportação, uma vez que mercados do Japão e da Rússia já demonstraram interesse em adquirir a semente.
— Se agregar valor ao pinhão e organizar a venda, com certificação e responsabilidade social, o lucro do produtor pode aumentar 50% ou mais —, diz o professor João Fert Neto, do Departamento de Engenharia Florestal do CAV.
Sobre o pinhão
- A colheita em Santa Catarina começa em 1º de abril e vai até o início do inverno
- A produção do Estado gira em torno de 10 mil toneladas por ano
- Os vizinhos municípios de Painel e Urupema, na Serra, respondem por praticamente a metade da produção estadual
- Estima-se que 12 mil famílias colhem pinhão na Serra Catarinense. Destas, cerca de 30% têm a atividade como principal fonte de renda
- Há 1,5 milhão de anos, as araucárias ocupavam um espaço de 200 mil quilômetros quadrados no Brasil, dos quais, 62 mil em Santa Catarina
- Entre as décadas de 1940 e 1980, as araucárias foram derrubadas indiscriminadamente, com vistas ao crescimento do país. Hoje, os remanescentes não passam de 4% da área original.